sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Machado de Assis


Machado de Assis

(...) Assim são as páginas da vida,
como dizia meu filho quando fazia versos,
e acrescentava que as páginas vão
passando umas sobre as outras,
esquecidas apenas lidas.

"Suje-se Gordo!"

Joaquim Maria Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis

Um pintor de paredes mulato e uma portuguesa de prendas domésticas foram os pais do menino Joaquim Maria Machado de Assis, neto de escravos alforriados, pobre e epiléptico, nascido em 21 de junho de 1839, no morro do Livramento, Rio de Janeiro, uma cidade então suja, malcheirosa e com uma população estimada de 300 mil habitantes, metade escravos.


Nos primeiros anos, com certeza, o menino freqüentou a Chácara do Livramento, sob a proteção da madrinha, senhora muito rica, dona da propriedade.


Aos seis anos, presenciou a morte da única irmã. Quatro anos mais tarde, morre-lhe a mãe. Em 1854 o pai casou-se com Maria Inês. Aos quatorze anos, Joaquim Maria ajudava a madastra a vender doces para sustentar a casa, tarefa difícil depois da morte do pai. Não se sabe se freqüentou regularmente a escola. O que se sabe é que, adolescente, já se interessava pela vida intelectual da Corte, onde trabalhou como caixeiro de livraria, tipógrafo e revisor, antes de se iniciar como jornalista e cronista.


Machado de Assis


Em 6 de janeiro de 1855, a Marmota Fluminense publicou o poema "A palmeira". Nada de excepcional, era apenas a estréia literária de Joaquim Maria Machado de Assis. O jornal em que se publicou o poema era editado numa livraria que havia se transformado em ponto de encontro dos escritores da época. Foi lá que Machado de Assis ganhou protetores como Paulo Brito (dono da livraria) , Manuel Antônio de Almeida, já conhecido romancista, e um padre que ensinava latim ao adolescente. Logo Machado de Assis já era membro da redação da Marmota Fluminense. Outros jornais passaram a publicar seus trabalhos.


Machado de Assis, homem da cidade, cada vez mais se distanciava de Joaquim Maria, menino do subúrbio. Nas roupas, na postura, na expressão. Os meios literários da Corte tornavam-se, pouco a pouco, terreno conhecido para ele. E ele tornava-se cada vez mais conhecido nesse terreno.


Machado de Assis escrevia sobre a vida fluminense, as óperas, corridas, patinação, pleito eleitoral e muitas outras coisas, surpreendendo por um estilo sutilmente irônico, que logo ia tornar-se marca registrada de sua obra. Sua crônicas ainda hoje têm atualidade, pois ele conseguiu extrair reflexões profundas de fatos corriqueiros, tocando a essência daquilo que observava com um meio riso de contemplação. E quase sempre esse riso trazia, implícita ou explicitamente, uma advertência. Em Machado de Assis, o fato em si tinha menor importância, o que interessava era a reflexão que esse fato provocava.


Machado cronista escreveu para diversos jornais, mas viver da escrita naquela época? Nem pensar! Machado seguiu uma carreira burocrática: o emprego público lhe garantia o sustento. A ascensão na carreira burocrática foi ocorrendo paralelamente a sua consagração como escritor. Oficial do gabinete do ministro, membro do Conservatório Dramático, oficial da Ordem das Rosas e, em 1889, o mais alto grau da carreira: diretor de um órgão público, a Diretoria do Comércio. Aos poucos foi chegando a estabilidade econômica e mais tempo para escrever.


Durante 40 anos Machado escreveu suas crônicas. Utilizando-se de histórias do dia-a-dia, o escritor ia refletindo sobre a História que se desenhava a sua volta. Machado denunciou a escravidão, não se utilizando do emocionalismo que caracterizava as manifestações abolicionistas, mas a análise, a reflexão, demolindo a idéia (muito comum na época) da "bondade dos brancos" ao libertar os negros. Em sua obra (crônica, conto, romance) procurou desvendar os mecanismos econômicos e ideológicos que tentavam justificar, primeiro, a necessidade do trabalho escravo e, depois, a contingência imperiosa da libertação. Em 13 de maio de 1888 foi assinada a Lei Áurea. No dia 19 do mesmo mês, Machado de Assis publicou uma crônica sobre o assunto, ironizando a "bondade dos brancos".


A Abolição e a Guerra do Paraguai foram fatais para a Monarquia. Sob a liderança do Exército, proclamou-se então a república, em 1889. Machado não era contra uma nova ordem, mas contra essa nova ordem republicana. Para ele, o fim do Império poderia significar o fim da estabilidade ainda precária do país. Foi por temer essa instabilidade que ele se opôs ao que considerava o prematuro advento republicano.


Enfim, Machado de Assis não passou largo dos grandes acontecimentos de seu tempo. É possível entrever, no registro do cotidiano feito por suas crônicas, assim como posteriormente nos romances, a ligação com o contexto social mais amplo.

Entre uma crônica e outra, entre uma crítica teatral e um poema, Machado de Assis ia tecendo a parte mais importante de sua obra: o conto e o romance.


O amor de verdade, não o ficcional dos romances, para o homem Machado de Assis veio na figura de Carolina Novais, portuguesa e mais velha que o escritor. Em carta, Machado declarou-lhe: "Tu não te pareces com as mulheres vulgares que tenho conhecido. Espírito e coração como os teus são prendas raras [...] Como te não amaria eu?". Viram-se. Amaram-se. Casaram-se em 12 de novembro de 1869. Passaram por dificuldades financeiras antes e depois do casamento. Casamento este que durou 35 anos. Consta que na mais perfeita harmonia.


No ano seguinte ao do casamento publica-se o primeiro volume de contos: Contos Fluminenses (1870). A crítica considera apenas medianos os contos desse livro. De qualquer forma, já aprecem as características marcantes do estilo machadiano: a conversa com o leitor; a ironia; o estudo da alma feminina. Três anos mais tarde, surgem as Histórias da meia-noite, também considerado pela crítica no mesmo nível do primeiro livro. Papéis avulsos (1882), é o terceiro livro de Machado. "O título parece negar ao livro certa unidade", frase do próprio autor. O que é falso, pois nesse livro revela-se a maturidade do contista Machado de Assis. No conto, esse livro marca a passagem para a segunda fase do escritor, a fase da maturidade artística. "O Alienista", "Teoria do medalhão", "O espelho", são alguns dos contas que fazem parte desse terceiro livro. Em Papéis avulsos Machado começa a trabalhar um dos seus outros temas básicos: a loucura. Nesse sentido, o conto "O Alienista" é uma obra-prima, de leitura absolutamente indispensável.


Em vida, Machado publicou ainda Histórias sem data (1884), Várias histórias (1896), Página escolhidas (1899) e Relíquias de casa velha (1906).


Alguns contas de Machado de Assis são de leitura indispensável: "A igreja do diabo", Cantiga de esponsais", "Singular ocorrência", "A cartomante", "A causa secreta", "Um Apólogo" e "Missa do galo". Essas narrativas revelam o universo dos temas que interessam a Machado: a loucura, a alma feminina, a vaidade, a sedução, o casamento, o adultério.


Os romances de Machado de Assis retratam a vida encarada como um espetáculo, ou mais precisamente, a vida da sociedade fluminense na época do Segundo Reinado. Espetáculo tratado de duas maneira distintas, ao longo da obra. 1.ª fase: Ressurreição (1872); A mão e a luva (1874); Helena (1876); Iaiá Garcia (1878). 2.ª fase: Memórias póstuma de Brás Cubas (1881); Quincas Borba (1891); Dom Casmurro (1899); Esaú e Jacó (1904); Memorial de Aires (1908).


Diante dessa esquematização, pode-se concluir que na trajetória de Machado de Assis ocorreu uma mudança brusca, uma verdadeira ruptura no modo de escrever; mas não é verdade. O que aconteceu foi o amadurecimento gradual, lento, progressivo, apesar de o primeiro romance da segunda fase ser revolucionário, não só em relação aos anteriores, mas também em relação a toda a história da literatura brasileira.


Machado passou pelo Romantismo e pelo Realismo, assimilando características de ambos, mas não se pode enquadrá-lo radicalmente em nenhum desses estilos. Pode-se dizer, a grosso modo, que os romances da primeira fase tendem ao Romantismo e os da segunda fase ao Realismo.


Porém, nos romances de primeira fase, já se podem notar algumas novidades. Sendo a principal delas é a criação de personagens que ambicionam sobretudo mudar de classe social, ainda que isso lhes custe sacrificar o amor (excetuando Ressurreição, os outros três romances dessa fase levam esse tom), bem diferente dos romances românticos em que os personagens em geral comportam-se de acordo com aquilo que lhes dita o coração.


Machado de Assis centrou seu interesse na sondagem psicológica, isto é, buscou compreender os mecanismos que comandam as ações humanas, sejam elas de natureza espiritual ou decorrentes da ação que o meio social exerce sobre cada indivíduo. Tudo temperado com profunda reflexão. O escritor busca inspiração nas ações rotineiras do homem. Penetrando na consciência das personagens para sondar-lhes o funcionamento, Machado mostra, de maneira impiedosa e aguda, a vaidade, a futilidade, a hipocrisia, a ambição, a inveja, a inclinação ao adultério. Como este escritor capta sempre os impulsos contraditórios existentes em qualquer ser humano, torna-se difícil classificar suas personagens em boas ou más. Escolhendo suas personagens entre a burguesia que vive de acordo com o convencionalismo da época, Machado desmascara o jogo das relações sociais, enfatizando o contraste entre essência (o que as personagens são) e aparência (o que as personagens demonstram ser). O sucesso financeiro e social é, quase sempre, o objetivo último dessas personagens.


O escritor preocupa-se muito mais com a análise das personagens do que com a ação. Por isso, em sua narrativas, pouca coisa "acontece": há poucos fatos em suas histórias, e todos são ligados entre si por reflexões profundas. Outra característica da prosa machadiana é a análise que o autor faz da própria narrativa, o narrador rompe o envolvimento emocional do leitor com a obra proporcionando momentos de reflexão sobre o que está lendo. A visão de mundo machadiana tem as seguintes características: humor, este tem duas funções: ora visa criticar o ser humano e suas fraquezas, através da ironia, ora demonstra compaixão pelo homem, fazendo o leitor refletir sobre a condição humana; pessimismo, não o angustiado nem desesperador. Tende para a a ironia e propões a aceitação do prazer relativo que a vida pode oferecer, já que a felicidade absoluta é inatingível. A natureza, considerada aqui como todas as forças que estabelecem e conservam a ordem do universo, é ao mesmo tempo mãe, porque criou o ser humano, e inimiga, porque mantém-se impassível diante do sofrimento, que só terá fim com a morte. A teoria do Humanitismo: trata-se de uma teoria formulada pela personagem Quinca Borba, que aparece em dois romances de Machado. O Humanitismo, é uma caricatura que Machado criou para retratar uma religião positivista comum em sua época, religião esta que pretendia salvar o mundo e o homem. O Humanitismo baseia-se na luta pela vida, que seria o grande objetivo do ser humano. Nessa luta vence o mais forte, e sua vitória é vista por Machado com a maior naturalidade, às vezes até com certo cinismo. A guerra, por exemplo, é considerada não como uma desgraça, mas como um processo fundamental para a sobrevivência do homem. Segundo o Humanitismo, a violência e a dor (física ou moral) fazem parte da própria condição humana.


Quando Carolina Novais morreu, em 1904, a vida de Machado de Assis desmoronou.

"Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo [...] Aqui me fico, por ora, na mesma casa, no mesmo aposento, com os mesmos adornos seus. Tudo me lembra a minha meiga Carolina. Como estou à beira do eterno aposento, não gastarei tempo em recordá-la. Irei vê-la, ela me esperará."

Carolina não teve de esperar mais que quatro anos. Com a vista fraca, uma renitente infecção intestinal e uma úlcera na língua, em 1.º de agosto Machado vai pela última vez à Academia Brasileira de Letras - que fundara em 1896 e da qual fora eleito presidente primeiro e perpétuo. Na madrugada de 29 de setembro de 1908, lúcido, recusando a presença de um padre para a extrema-unção, morreu Machado de Assis, reconhecido pelo público e pela crítica como um grande escritor.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Estilo Literário


É considerado por muitos o maior escritor brasileiro de todos os tempos e um dos maiores escritores do mundo, enquanto romancista e contista. Suas crônicas não têm o mesmo brilho e seus poemas têm uma diferença curiosa com o restante de sua produção: ao passo que na prosa Machado é contido e elegante, seus poemas são algumas vezes chocantes na crueza dos termos -- similar talvez à de Augusto dos Anjos.
O crítico norte-americano
Harold Bloom considera Machado de Assis um dos 100 maiores gênios da literatura de todos os tempos (chegando ao ponto de considerá-lo o melhor escritor negro da literatura ocidental), ao lado de clássicos como Dante, Shakespeare e Cervantes. A obra de Machado de Assis vem sendo estudada por críticos de vários países do mundo, entre eles, Giusepe Alpi (Itália), Lourdes Andreassi (Portugal), Albert Bagby Jr. (Estados Unidos da América), Abel Barros Baptista (Portugal), Hennio Morgan Birchal (Brasil), Edoardo Bizzarri (Itália), Jean-Michel Massa (França), Helen Caldwell (Estados Unidos da América), John Gledson (Inglaterra), Adrien Delpech (França), Albert Dessau (Alemanha), Paul Dixon (Estados Unidos da América), Keith Ellis (Estados Unidos da América), Edith Fowke (Canadá), Anatole France (França), Richard Graham (Estados Unidos da América), Pierre Hourcade (França), David Jackson (Estados Unidos da América), Linda Murphy Kelley (Estados Unidos da América), John C. Kinnear, Alfred Mac Adam (Estados Unidos da América), Victor Orban (França), Houwens Post (Itália), Samuel Putnam (Estados Unidos da América), John Hyde Schmitt, Tony Tanner (Inglaterra), Jack E. Tomlins (Estados Unidos da América), Carmelo Virgillo (Estados Unidos da América), Dieter Woll (Alemanha) e Susan Sontag (Estados Unidos da América).
O
estilo literário de Machado de Assis tem inspirado muitos escritores brasileiros ao longo do tempo e sua obra tem sido adaptada para a televisão, o teatro e o cinema. Em 1975, a Comissão Machado de Assis, instituída pelo Ministério da Educação e Cultura, organizou e publicou as edições críticas de obras de Machado de Assis, em 15 volumes. Suas principais obras foram traduzidas para diversos idiomas e grandes escritores contemporâneos como Salman Rushdie, Cabrera Infante e Carlos Fuentes confessam serem fãs de sua ficção, como também o confessou Woody Allen. A Academia Brasileira de Letras criou o Espaço Machado de Assis, com informações sobre a vida e a obra do escritor.
Machado em suas obras interpela o leitor, ultrapassando a chamada
quarta parede, nisso tendo sido influenciado por Manuel Antonio de Almeida, que já havia utilizado a técnica, bem como Miguel de Cervantes, e outros autores, mas nenhum deles com tanta ênfase quanto Machado.

Obras de Machado De Assis

Toda a obra de Machado de Assis é de domínio público, por ter expirado o correspondente direito de autor em 1978, ao se completarem 70 anos do falecimento do autor.

O Wikisource possui trabalhos escritos por este autor: Machado de Assis

Romance
Ressurreição, 1872
A mão e a luva, 1874
Helena, 1876
Iaiá Garcia, 1878
Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881
Casa Velha, 1885
Quincas Borba, 1891
Dom Casmurro, 1899
Esaú e Jacó, 1904
Memorial de Aires, 1908

Poesia
Crisálidas[2], 1864
Falenas, 1870
Americanas, 1875
Ocidentais, 1880
Poesias completas, 1901

Livros de contos
Contos Fluminenses, 1870
Histórias da Meia-Noite, 1873
Papéis Avulsos, 1882
Histórias sem Data, 1884
Várias Histórias, 1896
Páginas Recolhidas, 1899
Relíquias da Casa Velha, 1906

Alguns contos
A Carteira (conto do livro Contos Fluminenses)
Miss Dollar (conto do livro Contos Fluminenses)
O Alienista (conto do livro Papéis Avulsos)
A Sereníssima República (conto do livro Papéis Avulsos)
O Segredo do Bonzo (conto do livro Papéis Avulsos)
Teoria do Medalhão (conto do livro Papéis Avulsos)
Uma Visita de Alcibíades (conto do livro Papéis Avulsos)
O Espelho (conto) (conto do livro Papéis Avulsos)
Noite de Almirante (conto do livro Histórias sem Data)
Um Homem Célebre (conto do livro Várias Histórias)
Conto da Escola (conto do livro Várias Histórias)
Uns Braços (conto do livro Várias Histórias)
A Cartomante (conto do livro Várias Histórias)
O Enfermeiro (conto do livro Várias Histórias)
Trio em Lá Menor ((conto do livro Várias Histórias)
O Caso da Vara (conto do livro Páginas Recolhidas)
Missa do Galo (conto do livro Páginas Recolhidas)
Almas Agradecidas

Teatro
Hoje avental, amanhã luva,
1860
Queda que as mulheres têm para os tolos,
1861
Desencantos,
1861
O caminho da porta,
1863
O protocolo,
1863
Teatro,
1863
Quase ministro,
1864
Os deuses de casaca,
1866
Tu, só tu, puro amor,
1880
Não consultes médico,
1896
Lição de botânica,
1906

Biografia De Machado De Assis

Filho do mulato Francisco José de Assis, pintor de paredes e descendente de escravos alforriados, e de Maria Leopoldina Machado, uma lavadeira portuguesa da Ilha de São Miguel. Machado de Assis, que era canhoto [1], passou a infância na chácara de D. Maria José Barroso Pereira, viúva do senador Bento Barroso Pereira, na Ladeira Nova do Livramento, (como identificou Michel Massa), onde sua família morava como agregada, no Rio de Janeiro. De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Ficou órfão de mãe muito cedo e também perdeu a irmã mais nova. Não freqüentou escola regular, mas, em 1851, com a morte do pai, sua madrasta Maria Inês, à época morando no bairro em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é provável que tenha assistido às aulas quando não estava trabalhando.
Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender e se tornou um dos maiores intelectuais do país, ainda muito jovem. Em São Cristóvão, conheceu a senhora
francesa Madamme Gallot, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de francês, que Machado acabou por falar fluentemente, tendo traduzido o romance Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo, na juventude.
Também aprendeu inglês, chegando a traduzir poemas deste idioma, como
O Corvo, de Edgar Allan Poe. Posteriormente, estudou alemão, sempre como autodidata.
Machado de Assis
De origem humilde, Machado de Assis iniciou sua carreira trabalhando como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Oficial, cujo diretor era o romancista
Manuel Antônio de Almeida. Em 1855, aos quinze anos, estreou na literatura, com a publicação do poema "Ela" na revista Marmota Fluminense. Continuou colaborando intensamente nos jornais, como cronista, contista, poeta e crítico literário, tornando-se respeitado como intelectual antes mesmo de se firmar como grande romancista. Machado conquistou a admiração e a amizade do romancista José de Alencar, principal escritor da época.
Em
1864 estréia em livro, com Crisálidas (poemas). Em 1869, casa-se com a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, irmã do poeta Faustino Xavier de Novais e quatro anos mais velha do que ele. Em 1873, ingressa no Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, como primeiro-oficial. Posteriormente, ascenderia na carreira de servidor público, aposentando-se no cargo de diretor do Ministério da Viação e Obras Públicas.
Podendo dedicar-se com mais comodidade à carreira literária, escreveu uma série de livros de caráter
romântico. É a chamada primeira fase de sua carreira, marcada pelas obras: Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876), e Iaiá Garcia (1878), além das coletâneas de contos Contos Fluminenses (1870), , Histórias da Meia Noite (1873), das coletâneas de poesias Crisálidas (1864), Falenas (1870), Americanas (1875), e das peças Os Deuses de Casaca (1866), O Protocolo (1863), Queda que as Mulheres têm para os Tolos (1864) e Quase Ministro (1864).
Em
1881, abandona, definitivamente, o romantismo da primeira fase de sua obra e publica Memórias Póstumas de Brás Cubas, que marca o início do realismo no Brasil. O livro, extremamente ousado, é escrito por um defunto e começa com uma dedicatória inusitada: "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas". Tanto Memórias Póstumas de Brás Cubas como as demais obras de sua segunda fase vão muito além dos limites do realismo, apesar de serem normalmente classificados nessa escola. Machado, como todos os autores do gênero, escapa aos limites de todas as escolas, criando uma obra única.
Na segunda fase suas obras tinham caráter realista, tendo como características: a introspecção, o humor e o pessimismo com relação à essência do homem e seu relacionamento com o mundo. Da segunda fase, são obras principais:
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1892), Dom Casmurro (1900), Esaú e Jacó (1904), Memorial de Aires (1908), além das coletâneas de contos Papéis Avulsos (1882), Várias Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1906), Relíquias da Casa Velha (1906), e da coletânea de poesias Ocidentais. Em 1904, morre Carolina Xavier de Novaes, e Machado de Assis escreve um de seus melhores poemas, Carolina, em homenagem à falecida esposa. Muito doente, solitário e triste depois da morte da esposa, Machado de Assis morreu em 29 de setembro de 1908, em sua velha casa no bairro carioca do Cosme Velho. Nem nos últimos dias, aceitou a presença de um padre que lhe tomasse a confissão. Bem conhecido pela quantidade de pessoas que visitaram o escritor carioca em seus últimos dias, como Mário de Alencar, Euclides da Cunha e Astrogildo Pereira (ainda rapaz e por isso desconhecido dos demais escritores), ficcionalmente o tema da morte de Machado de Assis foi revisto por Haroldo Maranhão.

Quem foi Machado De Assis?

Joaquim Maria Machado de Assis (Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839 — Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1908) foi um romancista, contista, poeta e teatrólogo brasileiro, considerado um dos mais importantes nomes da literatura desse país e identificado, pelo crítico Harold Bloom, como o maior escritor afro-descendente de todos os tempos.
Sua vasta obra inclui também
crítica literária. É considerado um dos criadores da crônica no país, além de ser importante tradutor, vertendo para o português obras como Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo e o poema O Corvo, de Edgar Allan Poe. Foi também um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e seu primeiro presidente, também chamada de Casa de Machado de Assis.